Livro: "O Cético" por Ada May, pelo espírito José Bento

Título: O Cético

Autora: Ada May, pelo espírito José Bento

ISBN: 978.85.8291.029-0

Ano: 2015

Editora: Lachâtre

Gênero: Romance Mediúnico, Espírita, História do Espiritismo


Informações adicionais:
Número de páginas: 256
Tipo de diagramação: abres de capítulos elaborados com a imagem da capa e o número de marcação, cada capítulo começa com uma data e não possui título próprio, apenas sua numeração. A diagramação do texto é em fonte serifada e de tamanho agradável para a leitura.
Cor das páginas: brancas, as imagens de abre são preto e brancas
Fonte: agradável para a leitura e tamanho satisfatório
Capa: brochura brilhante, com orelhas laterais


Sinopse: 
Arthur C. Davenport foi um dos mais ferozes inimigos do espiritismo em seus primórdios, mobilizando inteligência e fortuna para desmascarar médiuns e pesquisadores. Apesar disso, participou do círculo de amigos íntimos de Allan Kardec, onde pôde demonstrar todo o seu ceticismo em relação às questões espirituais trazidas pela Nova Revelação. Conheça sua história neste romance envolvente, que faz inesquecível homenagem a alguns dos primeiros trabalhadores da seara espírita, como Ermance Dufaux e Allan Kardec.

Nota:


Resenha:

Esses romance supostamente é bibliográfico, porém, ao lê-lo, eu tive a impressão de que nomes de pessoas reais foram unidos em um mesmo enredo para se criar ele. Mais ou menos o que os canais de TV fazem com as novelas pretensamente ditas "históricas", onde pegam figuras reais como Tiradentes, Dom Pedro, Leopoldina e afins e juntam com personagem inventados para criar uma trama. O curioso dessas novelas é que, feitas pelos opressores, os vilões sempre vão parecer bonzinhos e amáveis, sendo quase que "o pai dos pobres índios" e aqueles que realmente lutaram pelos pobres ganham ares e cores de verdadeiros vilões....

Enfim, na faculdade de jornalismo mesmo eu aprendi que "cada história tem pelo menos uns 4 lados, o da vítima, o do que a vitimou, a realidade do fato e o ponto de vista da testemunha". Como se chegar a realidade de fato é algo quase impossível, uma vez que como seres humanos somos propícios a colocar os nossos sentimentos quanto a situação presenciada/ouvida, nosso ponto de vista e nossos amores e desamores quanto aos que vivenciaram a situação (chegando muitas vezes ao ponto de defender a pessoa errada só pelo fato de não "toparmos" com a vítima, não é mesmo?)

Dito isso, voltamos a trama do livro  eu tentarei tornar mais claro para vocês a minha impressão nessa resenha sobre a obra, partindo da impressão inicial que eu tive, ou seja, as pessoas que viveram essa história realmente são reais e estiveram ali, mas o que é narrado foi de alguma forma romanceada para caber no enredo de um livro, ok?

Arthur C. Davenport (curiosamente, o C. não é explicado em momento algum e o nome me lembra o de Arthur Conan Doyle depois de ver o nome de seu amigo fiel, vocês meio que vão entender) é um rapaz muito rico, órfão de mãe em sua infância e que teve como única figura familiar o pai. Isso forçosamente os aproximou e fez com que muitas ideias oriundas de seu pai fizessem parte de suas próprias.

Com a morte do senhor Davenport, Arthur herda uma grande fortuna em dinheiro, títulos, propriedades e "status social". Ele não possui irmãos, mas também tem uma personalidade que não ajuda a se relacionar muito bem com as pessoas, já que é terrivelmente arrogante e pomposo. As únicas santa almas a seu redor são seu mordomo e criado de longa data Alfred Smith (cujo sobrenome eu só descobri lá para o final do livro) e o médico Edward Watson (que só é chamado de Dr. Watson e isso reforçou a ideia no meu cérebro de que tinha algo meio errado aqui pra ser uma real biografia, sabe? Heheheheh).

Embora seja dito que ele é um advogado, Arthur é descrito boa parte do tempo atuando como uma espécie de detetive, até mesmo auxiliando a polícia londrina em várias ocasiões como uma espécie de consultor (te lembra Sherlock Holmes também, né? Então...).

Arthur tem uma raiva ferrenha de uma dupla de irmãos norte-americanos que se intitulam médiuns e fazem "shows" particulares em residências de pessoas ilustres. Toda a raiva dele começa por conta de eles terem o mesmo sobrenome e ele não ter conseguido na justiça para que eles fossem impedidos de "sujar seu santo sobrenome". Mas a dupla não é a única que anda fazendo "contato com os espíritos" para ganhar dinheiro, uma amiga do médico está a ponto de adotar um homem adulto e deixar toda a sua fortuna para ele por conta de uma suposta mediunidade dele. O larapio convenceu a senhora, que recentemente perdeu o filho, de que seu filho quer que ela o adote e ela esta a um passo de fazer isso mesmo.

Nesse ponto, Edward Watson acaba convencendo o amigo da necessidade de ajudar a mulher, nem que for apenas para garantir que ele assuma que cuidará dela até que ela venha a falecer da melhor forma possível. Embora, claro, Arthur tenha uma outra ideia ai, ele quer desmascarar o salafrário e provar que todos os que se denominam espíritas são charlatões que se aproveitam da tristeza alheia.

Em determinado momento, Arthur decide passar um tempo em sua residência em Paris e avisa o mordomo para fazer as malas e convida seu amigo médico para ir juntos. Mas o que seria um tempo? Uns dias? Uns meses? Não, meus amigos, eles ficam anos por lá! Tanto que o médico até começa a trabalhar por lá.

Em Paris,ele continua sua perseguição aos espíritas e a tentar provar a sociedade o quanto eles são pessoas vis. Ele começa a perseguir figuras como Allan Kardec (quem criou os livros que dão base a doutrina) e Ermance Dufaux (que aos 14 anos começou a psicografar livros e em um caso raro não foi internada em um manicômio por seus riquíssimos país).

Vale lembrar que essas duas pessoas foram mesmo pessoas reais, os livros citados foram mesmo escrito por elas, mas a interação delas com o personagem pode mesmo não ser real. Já que as "cartas" que ele toca com Allan Kardec são na verdade trechos dos livros do autor e Ermance acaba sendo quase que uma amiga íntima dele com o passar dos tempos, isso após ser humilhada publicamente por ele em uma ocasião descrita no livro).

Aliás, é graças a Ermance que ele vem a conhecer o "amor de sua vida", a jovem Jeanne Maginot. Ela é parente de Ermance, mas praticamente trabalha para a prima (anteriormente como professora - que eles chamam de preceptora - e depois como uma espécie de dama de companhia). Com o tempo Jeanne passa a estudar medicina, aproveitando para cursar por ser parente de pessoas influentes, pois neste século em que a história se passa (entre o 1857 e 1897) mulheres não eram aceitas na profissão. Aliás, Jeanne tem muita certeza disso e sofre desse preconceito, reconhecendo que no máximo poderá atuar como enfermeira se conseguir se formar, devido as "convenções sociais" (em outras palavras, o sexismo) da época. Mas isso não a faz desistir de ajudar ao próximo junto com seus celebres amigos espiritas, dentre eles a prima autora e Allan Kardec.

E é justamente a forma como Arthur trata os espíritas, acreditando que charlatões que enganam as pessoas para tirar dinheiro delas em seus momentos de dor sejam espiritas, que é a maior barreira entre esse amor.

O livro é bem interessante e passa por momentos de altos e baixos, bem como ensina Arthur que toda a generalização é burra e que em qualquer coisa nessa vida há os bons e os maus. Porém, na maior parte do livro somos apresentados a uma pessoa com atitudes infantis que tiram do sério até os mais pacatos dos leitores. Foi muitas dessas birras bobas que me fizeram ter uma leitura tão arrastada da obra, levando meses em um livro tão curtinho que normalmente leria em uma semana.

Em suma, o livro vale muito a pena por toda a informação que ele nos passa, mesmo que seja uma biografia meio "falsa". Acho até que José Bento deve ter tido a autorização para usar as figuras ilustres e reais dos próprios, uma vez que foi feito com o intuito de mostrar o lado bom, o caminho do bem e o como um engano não precisa ser uma barreira eterna intransponível. Mas, claro, tenha paciência com Arthur, e se ele te irritar demais vá tomar uma água e volte a leitura depois, pois no geral a obra vale muito.



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