Livro: "Tudo É Possível" de Carlos Henrique de Oliveira

Título: Tudo É Possível

Autor: Carlos Henrique de Oliveira

Editora: Editora Vida & Consciência

Ano de publicação: 2016

Gênero: Romance, espírita, Romance, LGBT, Violência contra a mulher, Machismo, Tabus, Feminismo

ISBN: 978-85-7722-500-3

Páginas: 352

Sinopse:
Maria Tereza é dona de um dos maiores impérios de comunicação do país e tem duas filhas, as gêmeas Luciana e Cristina. Embora sejam idênticas na aparência, as duas irmãs têm personalidades bem distintas. 
Com o passar dos anos, as tramas do destino conduzem as irmãs até Louise, uma transexual linda, sensível, inteligente e amante das artes, desencadeando profundas transformações na vida de todas elas. 
Por meio de acontecimentos que permeiam a vida dessas personagens, o leitor é convidado a refletir se a vida é de fato justa e se realmente existe justiça na sociedade.


Nota:




Resenha:

Esse é o segundo livro deste autor Carlos Henrique de Oliveira que eu leio. Aliás, creio que seja o segundo livro dele a ser lançado também, pois não encontrei nenhum outro em minhas andanças, mas se achar á vai para a lista de desejados.

O Carlos tem um dom natural de escrever sobre grandes tabus da sociedade e desmistificá-los, sem que a trama se tone clichê, cansativa, monótona ou forçada. Para ser bem honesta,é bem o oposto.O autor consegue pegar temas nos quais a maioria dos outros patinam (até mesmo alguns autores conceituados) e tratá-los com uma cumplicidade, com uma escrita tão agradável, que impressionam.

Nessa trama, temos vários sub-plots que vão ganham seu espaço  na medida que o livro vai evoluindo. Mas não temos a sensação de que eles ficam de lado, esperando aparecer, pelo contrário, todos os temas parecem em constante evolução, mesmo quando não são o foco.

O livro começa com uma "adiantada na trama", onde a magnata Maria Tereza Sobral, dona do império de comunicação Grupo Sobral (que a medida que o livro vai evoluindo ganha mais mídias), sofreu um grande baque e tem dificuldade em superar. Ela chora a morte de sua filha Luciana e temos o primeiro contato com ela a vendo como alguém emocionalmente perdida, em grande sofrimento e desnorteada. Fica difícil não ter uma pena tremenda dela, antes de saber que ela não é nada boazinha.

Após essa apresentação é que somos entregues a trama em si, na ordem exata dos fatos. Maria Tereza, a pessoa frágil que conhecemos no início, na verdade é uma jovem arrogante, rica, gananciosa e que sabe muito bem o que quer, e o que ela quer é casar com Alfredo Sobral, filho de uma das famílias mais ricas e influentes. O casamento é arranjado e mesmo que ela seja muito bonita, não tarda pare que ele pule a cerca e se relacione com Albertina, mulher (aliás) de seu melhor amigo.

Alfredo chega a querer divorcio de Maria Tereza, mas ela diz ter certeza que não passa de um caso e que sabe que todo homem é assim e que como esposa é obrigação dela aceitar isso, mas que no final das contas ele vai voltar a ela. Como o livro começa em 1979, não é difícil ver nesta postura de maria Tereza um retrato da mulher que sofria calada, que abstinha-se, que sabia de tudo o que o marido fazia, mas fingia não ver. Mas, ok, Maria Tereza não é santa não, calma lá. Ela tem toda essa postura porque tem uma meta em mente e vai lutar com todas as armas que tem em mãos para alcançá-la.

Mesmo que Albertina também tenha pedido divórcio do marido e agora esteja grávida de Alfredo, ela não vai ceder. Aliás, ela consegue ter no marido de Albertina, Luís Cândido, um aliado. Ela sabe que ele também casou por interesse, sabe que ele ainda ama Albertina e que não é correspondido, mas dá um jeitinho de fazer a situação mudar para eles.

E embora eu pudesse contar o que ela faz, vou deixar vocês na curiosidade e debater alguns outros acontecimentos da trama, para terem uma maior ideia dos tabus debatidos pelo autor, ok?

Maria Tereza e Alfredo acabam tendo um casal de filhas, gêmeas, Luciana e Cristina parecem ser iguais, mas enquanto a primeira vira objeto de adoração da mãe, a segunda acaba quase sendo preterida e só por insistência do pai não é deixada totalmente de lado pela mãe. Aliás, Alfredo tenta de todas as formas suprir em Cristina a falta que ele entende que ela tem da mãe, o que estreita os laços de afeto entre eles.

Mas não pense que a vida de Luciana é um mar de rosas não. Enquanto Cristina ganha independência com a displicência de sua mãe, Luciana tem todos os passos de sua vida amplamente controlados. Como agir, o que falar, o que vestir,o que comer, que carreira seguir, absolutamente udo, o tempo todo! Até mesmo com quem se relacionar fica a cabo de sua mãe.

Quando o pai delas morre, após Maria Tereza concluir seu plano dese tornar a dona do império que o pertencia. Cristina acaba ficando praticamente sozinha, a mãe a vê como mentalmente perturbada e só não a interna porque os pais de Alfredo não permitiriam de forma alguma. Mas a exclusão da garota a faz se tornar alguém de bem, alguém que luta pelo oprimido,pelo excluído. Para desespero da mãe, ela está sempre em manifestações em prol dos mais necessitados e se não fossem os acionistas defenderem que a "excentricidade" de Cristina melhora a imagem do Grupo com o público, ela estaria em maus lençóis. Feminista de ação, lutadora pelos direitos de homossexuais e transexuais, ela não fica parada e não pretende seguir convenções sociais impostas, é seu coração quem a guia no caminho do que ela acredita ser certo e ninguém mudará isso.

Diferente de Luciana, que acaba sendo obrigada pela mãe a se relacionar com um homem totalmente machista, que a espanca e a trata como um objeto. Ele colocou na cabeça que a moça é sua "predestinada" e quando ela se vê cheia de tanto apanhar e tenta fugir de vez desse relacionamento tóxico, ele não aceita. Pior, Maria Tereza, que parece alheia aos maus tratos e abusos sofridos pela filha, junta-se a ele para fazer com que Luciana o perdoe e para que o casamento deles se concretize. Mas pelo começo da trama vocês sabem que esse angu desandou, certo? E desandou feio....

Mas, fora isso, temos uma outra trama que eu vou ter que pular os detalhes sobre quem são os ais da moça, ok? Vou manter esse segredo aqui para que fiquem mais entusiasmados para ler, certo? A trama é sobre a transexual Louise. Nascida como Rômulo, mas desde muito nova ela mostra que não se sente nada confortável em seu corpo. Ela não se vê como homem, seu porte físico, seus jeitos, sua voz, sua mente e sus gostos não são os mesmos dos outros garotos. Isso, no início dos anos 80, assusta seus pais adotivos. Mas enquanto a mãe, muito religiosa, tenta se apegar na ideia de que ser "gay" é pecado, o pai quer "corrigir na marra".

Confesso que foi difícil saber em qual trama eu chorei mais, sofri em todas e meus olhos se enchiam de lágrimas em poucas linhas. Haviam momentos onde eu ficava arrepiada de medo ou pesar. E, nossa, o livro é bárbaro. Os temas são tratados com muita veracidade (embora suas soluções encontrem até certa facilidade, já que um livro normalmente busca um final mais feliz, ok?), você vê o como cada personagem sofre na pele, o quanto as dores são marcantes na alma e o como é difícil superar cada um de seus desafios. Um livro maravilhoso e que me fez ter total certeza de que sou fã deste autor.


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